Deborah Padfield publicou na plataforma inglesa
openDemocracy o artigo
Basic Income - Basic Respect ponderando as vantagens e desvantagens da adoção da Rena Básica Incondicional (ou UBI em inglês) como uma solução política de curto prazo para os problemas do sistema de bem-estar social no Reino Unido. Segundo Padfield a ideia de pagar regularmente a
todos os cidadãos e cidadãs britânicos uma quantia fixa em espécie sem qualquer forma de condicionalidade possui uma série de vantagens em relação ao sistema vigente, em especial a efetivação de uma rede de segurança social universal e a ruptura da ligação, até o momento essencial, entre direito à riqueza social e formas de remuneradas de trabalho. Entretanto, a principal bandeira do movimento para a autora deveria ser pautada na forma de respeito básico que a RBI oferece a cada indivíduo. Apenas a conjunção entre o pagamento individualizado (e não familiar) e sem condicionalidades (não sujeito aos testes de renda e capacidade) é capaz de empoderar nossas decisões pessoais contra diferentes mecanismos de dominação política e exploração econômica:
Basic Income could assure [...] sufficient income for food and warmth at very least, something our ruthlessly conditional benefits system denies. It could give time to gather strength, look for a sustainable job rather than the first on offer, again something contrary to government's policy of forcing claimants back into work as quickly as possible. And it could value unpaid work by enabling people to do what they need to do as carers, parents, children and neighbors, or choose to do as voluntary workers. All everyday freedoms for wealthier people.
Já entre as principais desvantagens apontadas pela autora encontram-se a necessidade de uma reestruturação econômica mais profunda da economia, como a integração dos trabalhadores imigrantes e a resolução da atual crise de habitação européia, e, principalmente, a forte aversão político-eleitoral à remuneração de formas não assalariadas de trabalho (ou mesmo de trabalho nenhum). Adequar a RBI às exigências de contribuição ou a cláusulas de reciprocidade social é alterar um elemento central da proposta (veja o artigo abaixo).
O texto de Padfield coloca a questão: não seria a RBI uma forma de desrespeito aos esforços produtivos das pessoas? Recentemente o teórico político português
Roberto Merrill (Minho) publicou uma excelente intervenção no
site Esquerda.Net sobre o argumento da alegada exploração das capacidades produtivas dos indivíduos dispostos a trabalhar em uma sociedade regulada pela RBI - também conhecido como
Rendimento Básico Incondicional por lá. Merril examina diferentes linhas de defesa do Rendimento Básico (rejeição da ética do trabalho, valorização de contribuições não-remuneradas, preço baixo a ser pago, etc.) e conclui dando ênfase ao caráter "pré-distributivo" da proposta, isto é, a capacidade de empoderar os cidadãos com recursos econômicos
antes de participarem ativamente no processo de produção da riqueza social, e não apenas como alvo de políticas de
redistribuição de renda:
O RBI representa a garantia de uma certa autonomia face às relações de mercado ou, pelo menos, de uma capacidade de resistência relativamente aos termos desvantajosos que outros podem querer impor-nos enquanto outorgantes; é uma resposta a uma exigência de “reciprocidade honesta” entre os cidadãos e a melhor via de acesso à apropriação justa dos bens. Um RBI muda a estrutura dos resultados do mercado antes que eles ocorram, alterando a posição que os indivíduos têm quando chegam ao mercado. Na realidade, o RBI pode ser compreendido como uma política de redistribuição, mas qualquer política que tenha um efeito de mudança de poder de mercado é nesse sentido pré-distributiva, mesmo que se possa olhar para ela ao mesmo tempo como redistributiva. Julgo que a motivação mais profunda por trás da pré-distribuição é que queremos uma sociedade mais igualitária em termos de distribuição de poder, e não apenas de dinheiro, e também queremos que o mercado seja estruturado de tal forma que ele ofereça oportunidades reais para os indivíduos exercerem poder económico. “Pré-distribuição” é, então, o nome de um tipo de estratégia que permite realizar esses princípios igualitários mais profundos.
“Unconditional Basic Income (UBI) is an amount of money paid on a regular basis to each individual unconditionally and universally, high enough to ensure a material existence and participation in society”. Among the 'ten reasons to support' it are provision of a stronger safety net for everyone, giving more choice of paid and unpaid work and allowing unpaid work to be revalued. So says Basic Income UK.
Fundamentally, BI is about respecting people. Is it a good idea?
Three stories that signal 'yes'.
These are versions of situations I've met again and again. They are far from extreme.
Young woman - call her Tina. Earned full-time till her husband left. Her fixed-term contract wasn't renewed. Husband didn't pay towards the mortgage. There was a 13-week wait between signing on for Job-Seekers Allowance (JSA) and getting help with mortgage interest. Savings quickly dwindled. They were incomers to their village, with no local network. Tina's JSA claim ended because she didn't make it to the initial JobCentre Plus interview: no money for two buses each way. JCPlus would have refunded that travel cost (though not for regular signing-on) but she didn't have the cash up-front. She'd twice walked five miles each way to the supermarket to get cut-price food at the end of the day: tough in icy weather, returning to an unheated house. She lived on tea and bread for days. No food, no heat, debts rising, home at risk. In our prosperous, well-populated Home Counties, it's terrifying how isolated you can abruptly become. Once she ran out of money for her mobile, she'd be utterly cut off.
Gary, an accountant. Bi-Polar Disorder, not bad enough normally to prevent him working but work stress triggered an episode. He lost his job. Went on Employment & Support Allowance (ESA) then was found fit for work and moved to JSA. After a couple of months his JobCentre Plus 'adviser' told him to apply for a job. He was offered it on condition he do it 'self-employed'. If he refused, his JSA would be stopped. So he took it though he dreaded the uncertainties. The work was intermittent; he made a mess of his paperwork; owed money on rent, council tax, income tax, working tax credit overpayment; lost the contract. Spiralling downwards.
Sue cares for her daughter Karen, diagnosed with fibromyalgia and borderline personality disorder. Karen's moods are erratic and she self-harms. Sue can't leave her alone for long. But Karen's conditions are hard to prove for disability benefits, and unless she has the right rate of Disability Living Allowance (or the new Personal Independence Payment) Sue can't get Carer's Allowance (£61.35pw, gateway to a small Income Support top-up). When Karen's DLA was reduced, Sue suddenly had no income.
Three possible fruits of Basic Income
Basic Income could assure these people sufficient income for food and warmth at very least, something our ruthlessly conditional benefits system denies.
It could give time to gather strength, look for a sustainable job rather than the first on offer, again something contrary to government's policy of forcing claimants back into work as quickly as possible.
And it could value unpaid work by enabling people to do what they need to do as carers, parents, children and neighbours, or choose to do as voluntary workers. All everyday freedoms for wealthier people.
A trap?
It's alluring. Yet household incomes, whether from wages, benefits, tax credits or Basic Income (BI), can't alone deal with poverty or inequalities. Few supporters think it can. Unless it is considered as part of - and consequent upon - a major reorientation of our economy, BI is a straw man destined to go down in flames.
This is, I fear, a potential trap. Government has a highly effective tactic of using welfare spending as a distraction from fundamental political and economic questions. Focusing on BI with its obvious up-front costs and challenges could play into that, diverting attention from the restructuring on which it depends.