A Folha de S. Paulo publicou uma seção do livro do filósofo Vladimir Safatle (USP) Grande Hotel Abismo: por uma reconstrução da teoria do reconhecimento. Os objetivos de Safatle são a revalorização do pensamento hegeliano para interpretarmos o mundo contemporâneo e, a partir disso, a proposta de uma teoria do reconhecimento mais crítica do que as formulações de Axel Honneth e Charles Taylor. Esperamos ansiosamente as resenhas.
Por outro lado, insistir nesse aspecto nos permitirá mostrar como, a partir de uma perspectiva hegeliana, o processo de reconhecimento da individualidade não pode estar restrito ao simples reconhecimento da reivindicação de direitos individuais positivos que não encontram posição em situações normativas determinadas, como o quer Honneth ao afirmar não ser possível compreender por que a "antecipação da morte, seja a do próprio sujeito seja a do Outro deveria conduzir a um reconhecimento da reivindicação de direitos individuais". O mesmo Honneth para quem a experiência da indeterminação é vivenciada pela consciência basicamente como fonte de sofrimento, como "um estado torturante de esvaziamento".
De fato, a questão não pode ser respondida se compreendermos o que exige reconhecimento como sendo direitos individuais, expressões singulares da autonomia e da liberdade. Mas não é isto que Hegel tem realmente em vista.
Tanto é assim que ele não teme afirmar que o não arriscar a vida pode produzir o reconhecimento enquanto pessoa, mas não enquanto consciência-de-si autônoma e independente. Como se a verdadeira autonomia da consciência-de-si só pudesse ser posta em um terreno para além (ou mesmo para aquém) da forma da pessoa jurídica portadora de diretos positivos e determinações individualizadoras.