Na última edição da revista Novos Estudos do CEBRAP podemos encontrar o artigo "Capital Simbólico e Classes Sociais" do sociólogo francês Pierre Bourdieu. Nesse artigo famoso publicado originalmente em 1978 Bourdieu realiza um esforço impressionante ao sintetizar em um ensaio curto e direto tanto suas posições metodológicas mais importantes como as teses de sua obra A Distinção (temos uma boa edição em português pela Edusp). O texto é prefaciado pelo também sociólogo Loic Wacquant. O texto é uma excelente introdução à teoria social de Bourdieu.
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Mesmo recusando admitir que as diferenças existam apenas por-
que os agentes creem ou fazem crer que elas existem, devemos admitir
que as diferenças objetivas, inscritas nas propriedades materiais e nos
lucros diferenciais que elas trazem, se convertem em distinções reconhecidas nas e por meio das representações que fazem e que formam delas
os agentes. Toda diferença reconhecida, aceita como legítima, funciona
por isso mesmo como um capital simbólico que obtém um lucro de
distinção. O capital simbólico, com as formas de lucro e de poder que
assegura, só existe na relação entre as propriedades distintas e distintivas como corpo correto, língua, roupa, mobília (cada uma delas obtendo seu valor a partir de sua posição no sistema das propriedades correspondentes,ele mesmo objetivamente referido ao sistema das posições nas distribuições) e indivíduos ou grupos dotados de esquemas
de percepção e de apreciação que os predispõem a reconhecer (no duplo
sentido do termo) essas propriedades, ou seja, a instituí-los como es-
tilos expressivos, formas transformadas e irreconhecíveis das posições
nas relações de força.