segunda-feira, 21 de março de 2016

Greenwald: A Subversão da Democracia no Brasil

A plataforma The Intercept publicou neste final de semana uma longa matéria sobre os últimos acontecimentos políticos no Brasil, na qual procura contextualizar a escalada da crise política desde a eleição do governo Dilma até a dramática tentativa de golpe constitucional atualmente em curso no país (o texto pode ser lido também em português). Diferentemente de outras matérias na imprensa internacional, o artigo de Greenwald coloca em questão a forma como cobertura internacional da crise tem sido pautada por fontes e comentários (ou em alguns casos até mesmo por press release traduzidos) rastreados até o Grupo Globo de comunicação, maior conglomerado de mídia do Brasil controlado pela família Marinho que, como é de conhecimento comum no país mas não necessariamente fora dele, tem dado apoio incondicional à tentativa de derrubada do governo eleito em 2014. 

O artigo aponta o caráter extremamente elitista dos movimentos de rua contra Dilma e o flerte de suas lideranças com a nova extrema-direita das Américas. Põe em questão também a seletividade da cobertura da grande imprensa, como a proteção jurídica e midiática ao líder do impeachment Eduardo Cunha (não apenas um dos grandes beneficiados pela Lava Jato, como também acusado de ameaçar testemunhas de defesa do processo) e ao silenciamento constrangedor sobre o fato de que muitos dos membros da comissão de impeachment fazem parte, justamente, dos partidos que mais se beneficiaram de contribuições ilegais e que teriam todos os motivos do mundo para tomarem o poder e pararem a investigação (estima-se que cerca que 45 dos membros receberam financiamento das empresas atualmente sob investigação). Finalmente, o artigo ressalta ao o papel comprometedor do populismo judiciário na oposição ao governo, quando um juiz do interior do país cooperou com as Organizações Globo divulgando gravações - aparentemente ilegais - das conversas da presidente da república.


(Marca de luxo lança coleção em apoio ao juiz Sérgio Moro)


Como conclui Greenwald: 

There is no question that PT is rife with corruption. There are serious questions surrounding Lula that deserve an impartial and fair investigation. And impeachment is a legitimate process in a democracy provided that the targeted official is actually guilty of serious crimes and the law is scrupulously followed in how the impeachment is effectuated.
But the picture currently emerging in Brazil surrounding impeachment and these street protests is far more complicated, and far more ethically ambiguous, than has frequently been depicted. The effort to remove Dilma and her party from power now resembles a nakedly anti-democratic power struggle more than a legally sound process or genuine anti-corruption movement. Worse, it’s being incited, engineered, and fueled by the very factions who are themselves knee-deep in corruption scandals, and who represent the interests of the richest and most powerful societal segments long angry at their inability to defeat PT democratically.
In other words, it all seems historically familiar, particular for Latin America, where democratically elected left-wing governments have been repeatedly removed by non-democratic, extra-legal means. In many ways, PT and Dilma are not sympathetic victims. Large segments of the population are genuinely angry at them for plainly legitimate reasons. But their sins do not justify the sins of their long-standing political enemies, and most certainly do not render subversion of Brazilian democracy something to cheer.