A última edição da Revista Etic@, publicada pelo departamento de filosofia da UFSC, foi dedicado ao tema da liberdade religiosa em contextos democráticos, tendo como tema de convergência os debate sobre liberdade de expressão e fanatismo pós-Charlie Hebdo. (Vale lembrar que o blog também abriu espaço para contribuições de cientistas políticos, filósofos e antropólogos sobre o tema: ver aqui e aqui).
Destaque para os artigos de Alessandro Pinzani (UFSC), sobre o papel dos discursos religiosos na esfera pública, Evania Rich (UFSC) sobre os argumentos de restrição de símbolos islâmicos na França, Felipe Campello (UFPE) sobre a interpretação hegeliana do fanatismo religioso e Marcos Alves (CUF) sobre o papel da diferença no pensamento de Levinas. A lista completa dos artigos pode ser encontrada aqui.
Alessandro
Pinzani
O artigo
analisa diferentes discursos que, neste momento, estão sendo formulados sobre a
religião na esfera pública. Não se falará nele da religião ou das religiões,
mas da maneira na qual esses temas são percebidos e discutidos na opinião
pública ocidental, em particular europeia, pois essa discussão tem algo
relevante para a discussão sobre o papel da religião na sociedade brasileira.
Serão considerados três discursos que serão denominados respectivamente de (1)
“determinismo cultural”, (2) “anti-religiosidade seletiva” e (3) “laicismo
estatal”. A intenção do artigo é apontar para os erros lógicos e categoriais e
para as incoerências presentes nesses discursos que dominam o atual debate
sobre o lugar da religião em geral e do Islã em particular nas sociedades
ocidentais.
Evania
Elizete Reich
O artigo
discute o tema da laicidade republicana francesa e a questão da proibição do
uso do véu nas escolas pelas meninas muçulmanas. São três os principais
objetivos deste artigo: o primeiro é situar o discurso laicista na tradição
republicada francesa, o segundo é apresentar os seus argumentos em defesa à
proibição do uso véu, e por último, sublinhar algumas críticas que são feitas
ao pensamento laicista, seja por parte de uma corrente de esquerda francesa,
seja por parte de um movimento feminista representada por mulheres tanto
muçulmanas quanto não muçulmanas.
Filipe
Campello
O presente
artigo tem como objetivo encontrar em Hegel uma contribuição teórica para a
debate recente sobre pós-secularismo e a relação entre religião e esfera
pública, em particular em torno do conceito de fanatismo. Em primeiro lugar,
como veremos, o que se sobressai na abordagem hegeliana é o modo em que o
conceito de fanatismo é desenvolvido a partir de uma teoria da liberdade e suas
patologias; e, em segundo lugar, como este modelo de liberdade vincula-se a uma
teoria de formação da vontade livre em que as instituições cumprem um papel
central. Em vista desta proposta interpretativa, apresento meu argumento em
dois passos. Primeiramente, discuto brevemente em que medida o conceito
hegeliano de fanatismo, ao vincular-se a um modelo de liberdade, pode contribuir
para o debate contemporâneo (1). E, em segundo lugar, apresento como a intuição
original de Hegel pode ser atualizada a partir de um modelo normativo de
processos de aprendizagem (2).
Marcos Alexandre Alves
O texto indaga acerca do núcleo das
confrontações do pensamento contemporâneo, para mostrar qual é o lugar que
corresponde, nesse contexto, à Levinas. Neste sentido, mostraremos, em primeiro
lugar, o motivo principal pelo qual, tem-se produzido, nos últimos anos, uma
revalorização do pensamento de Levinas, a saber, a virada ética contemporânea;
em segundo lugar, ilustraremos uma das noções básicas da proposta filosófica
levinasiana, que se encontra em íntima relação com os problemas que o
pensamento contemporâneo tem desenvolvido: racionalidade ética como abertura à
diferença não indiferente – alteridade