segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Marc Milá: Concentração de Renda no Brasil (1933-2013)

Um dos pesquisadores ligados ao World Top Incomes Database, Marc Milá (Paris School of Economics), publicou os resultados preliminares de sua tese de doutorado sobre a concentração de renda no Brasil. O trabalho entitulado Income Concentration in a Context of Late Development: An Investigation of Top Incomes in Brazil using Tax Records, 1933–2013 procura aplicar ao caso brasileiro a mesma metodologia de mensuração de desigualdade utilizada nos trabalhos de Piketty & Saez. Ou seja, um estudo focado em trajetórias econômicas de longo prazo e com ênfase na apropriação da renda nacional anual pelo 1% mais rico da sociedade. Trata-se de um trabalho denso e relativamente longo (mais de 100 páginas) mas um de seus principais achados é a constatação de que a concentração de renda pelo 1% ao longo dos últimos 40 anos no país representou em média 25% da riqueza nacional anual. 

Ao utilizar os dados da receita federal para justificar seus achados, a tese acrescenta mais uma rodada no debate atual sobre a dinâmica da desigualdade no Brasil (ver aqui e aqui para outros posts sobre o assunto). O trabalho aponta também para uma aparente correlação histórica entre aumento da concentração de renda no topo da pirâmide social e retração de investimentos. O que, caso seja empiricamente comprovado e corretamente interpretado, pode fortalecer a tese de Krugman de que a desigualdade, além de um problema moral, pode ser também um problema econômico para o desenvolvimento social.



Abstract

This paper presents new estimates on income concentration in Brazil over its development trajectory from 1933 to 2013 using individual tax records. The findings confirm Brazil’s status as one of the world’s most unequal countries, with concentration levels unrivalled elsewhere. Income has been highly concentrated at the top of the distribution, with the top 1 per cent amassing a share of 27 percent in 2013, and consistently fluctuating around 25 per cent since the mid 1970’s. The majority of the income of the very rich in Brazil is not subject to the personal income tax, explaining their low tax liability and the difference between top shares of taxable income and top shares of total income, the latter registering much higher levels of concentration. We also present evidence that household surveys underestimate the extent of income inequality in Brazil. The overall findings illustrate the additional taxable capacity of top income groups, especially in a context where they are not investing as much in the productive capacities of the economy as their share of total income would justify.