A íntegra da entrevista de Piketty ao programa Roda Viva já se encontra no site da TV Cultura. O programa foi marcado sobretudo pela presença de jornalistas que muito provavelmente leram muito pouco ou nada do livro. Contudo, a entrevista teve também um acirrado debate entre Piketty e o economista da USP André Lara Resende acerca das implicações normativas das teses contidas no livro O Capital no Século XXI. A certa altura da discussão, Resende chega a questionar a legitimidade das propostas de taxação progressiva de capital privado acumulado - defendida fervorosamente por Piketty em seu livro e em sua militância no partido socialista - sugerindo que a "gana" dos igualitários em taxar os muito ricos nas sociedades democráticas estaria mais próxima de um vício moral - a inveja - do que do valor da igualdade social. Com isso Resende retoma ao pé da letra o velho argumento de Hayek em seu ensaio Equality, Value, and Merit de 1960:
Piketty rebate a objeção a partir de duas considerações importantes que Resende (ou Hayek) estariam ignorando. Primeiro, que a desigualdade em si não é um problema, mas apenas a desigualdade econômica que não pode ser justificada por padrões democráticos, como por exemplo o acúmulo constante de riqueza entre o 1% mais rico em sociedades nas quais a grande maioria não possui, nem nunca possuiu, capital econômico. Em segundo lugar, que a acumulação privada de capital gera efeitos nocivos não apenas na economia - como parece supor Resende - mas possui consequências nocivas para a democracia ao enviesar a representação política e o processo de tomada de decisão coletiva em favor dos mais ricos. Vale a pena acompanhar.